Publicam-se hoje, na revista 2, os dois últimos textos que escrevi para o jornal Público, pequeníssima fracção de tudo o que ali produzi ao longo de 23 anos (menos uma semana). São textos iguais aos outros, uma sugestão de leitura e uma crónica urbana que, provavelmente, publicarei aqui nos próximos dias, como de costume, um pouco para que não se percam na voragem dos dias, um pouco por me envaidecer, às vezes, das coisas que faço. Visto que ignorava, ao escrevê-los, que aqueles seriam os últimos textos que publicaria,não me despedi dos leitores. Não me despedi de ninguém, na verdade. Não gosto de despedidas. Mas aqueles que me foram lendo ao longo destes quase 23 anos eram os únicos que mereciam a cortesia, ao menos, deste adeus ou até já.
Sei que me vai custar um pouco quando, amanhã, não precisar já de me levantar da cama à hora certa, ou tomar banho para me vestir e me dirigir ao local de trabalho. Embora a mantenha desde os 18 anos, a rotina, esta rotina, não me é absolutamente essencial (posso perfeitamente inventar outra). Mas saberei que terei perdido aqueles para quem trabalhei estes anos todos: os leitores. Foi por eles, e por aqueles que dependem de mim e do ordenado que eu ganhava, que consegui manter-me profissional até ao fim, mesmo quando me apetecia apenas ser humano, impulsivo e até, muitas vezes, malcriado. Hoje sei que estive certo ao tentar sempre fazer o melhor que podia o trabalho que me davam para fazer, gostando ou não, e mesmo quando me parecia que podia ser melhor rentabilizado fazendo outras coisas (também sei porque razão era assim). Servi, pois, o melhor que pude aqueles que eram os meus clientes e é por isso que, apesar da angústia e do medo inerentes à condição de desempregado num país ruindo, durmo sempre muito bem assim que me deito. Espero que a minha avó tenha razão.