sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Coisas à volta dos livros



Concluída a grandiosa limpeza anual da minha sala, que já aqui relatei, reparei há dias que, fruto dos vários movimentos destinados a tentar acomodar o maior número de livros num espaço relativamente pequeno, a obra do Enrique Vila-Matas acabou partilhando uma estante com alguns autores africanos (Agualusa, Ondjaki, Mia, Germano Almeida e etc.). Não existe, na aparência, nenhuma familiaridade que os pudesse ter juntado ali, nem sequer a expressão de uma vontade consciente, de um capricho meu. Sendo um acaso, a vizinhança, porém, faz sentido – para mim, pelo menos, faz todo o sentido. Quando escrevi um livro que era, entre outras coisas, uma viagem imaginária por África, fi-lo seguindo a África que lera nos livros, naqueles livros. Para o título, escolhi uma frase que Vila-Matas copiou da parede de uma casa de banho de Barcelona: “Aonde o vento me levar”. Quando, depois, leu o livro, o Enrique comentou comigo que teria preferido outro título, “Nunca estive em África”, tal como sucede ao imóvel narrador do romance. Agora que estão todos junto numa estante da minha casa, os guias da viagem e o seu involuntário padrinho, posso antecipar que, na reedição que em breve se fará, “Aonde o vento me levar” terá um subtítulo. “Nunca estive em África”, evidentemente.