terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
É uma sorte que Fevereiro tenha 29 dias
Imagem: Sillon, de Antoni Tàpies
Li a frase “é uma sorte que Fevereiro tenha mais um dia” e, perceberão porquê, lembrei-me do primeiro-ministro Passos Coelho e daquela tirada carnavalesca de ontem, na qual o governante anti-piegas explicava que a transformação do Carnaval num dia de trabalho terá um impacte na economia nacional facilmente estimável, bastando dividir o produto interno bruto pelos dias úteis do ano (ou algo que o valha). Com alguma sorte, Fevereiro de 2012 há-de ser, assim, um mês febril e inesquecível na história da economia portuguesa, ao qual se poderá tributar, inclusive, o feito de ter posto os deputados da república todos a trabalhar, conforme a intenção já reiterada. Talvez, pois, a assembleia venha mesmo a estar mergulhada em labor por um dia sem exemplo, e a cheirar profundissimamente a suor. Mas a frase, aquela frase, “é uma sorte que Fevereiro tenha mais um dia”, li-a no blogue Testigo Ocular, do pintor argentino Eduardo Iglesias Brickles, o qual se propõe aproveitar o mês de Fevereiro para reflectir lentamente no seu trabalho e desenvolver alguns esboços. Foi escrita, a frase, no passado domingo, dia 5, no mesmo dia em que morreu outro artista, Fernando Lanhas. E logo na segunda-feira morreu também Antoni Tàpies, o catalão, também cultor do abstraccionismo. Os tempos, já se sabe, são positivistas e concretos até mais não, divide-se o produto interno bruto pelo número de dias úteis e eis o que vale um país. Fevereiro, mostra o calendário, terá 29 dias e nenhum feriado de Carnaval. Não se sabe ainda quantos pintores abstractos morrerão. Este, em todo o caso, não é o tempo deles. Nem o nosso.