
Os Malaquias, de Andrea del Fuego, romance vencedor da mais recente edição do Prémio José Saramago, surpreende pelo recurso a uma linguagem despojada e muito simples, quase infantil, iluminada por delicadas subtilezas. Mais do que de artifícios literários ou de descrições, a narrativa vive da capacidade para gerar imagens, belas imagens, a partir de fracções narrativas mínimas, invocando como que um contínuo sussurro, ou um fio de água jorrando de uma fonte. Lê-se como se as andanças dos três irmãos, as perdas e desencontros, nos estivessem a ser contados ao ouvido, tendo-me agradado menos, porém, o recurso à erupção de episódios aparentados com um certo realismo mágico, paranormal e pretensamente onírico. Para já apenas disponível para os sócios do Círculo de Leitores, o romance vai ser lançado brevemente pela Porto Editora, confirmando a tendência deste prémio para (também) revelar entre nós alguns interessantes autores do Brasil, depois de já anteriormente ter ajudado a lançar Adriana Lisboa em Portugal.