terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Como um fio de água jorrando de uma fonte
Os Malaquias, de Andrea del Fuego, romance vencedor da mais recente edição do Prémio José Saramago, surpreende pelo recurso a uma linguagem despojada e muito simples, quase infantil, iluminada por delicadas subtilezas. Mais do que de artifícios literários ou de descrições, a narrativa vive da capacidade para gerar imagens, belas imagens, a partir de fracções narrativas mínimas, invocando como que um contínuo sussurro, ou um fio de água jorrando de uma fonte. Lê-se como se as andanças dos três irmãos, as perdas e desencontros, nos estivessem a ser contados ao ouvido, tendo-me agradado menos, porém, o recurso à erupção de episódios aparentados com um certo realismo mágico, paranormal e pretensamente onírico. Para já apenas disponível para os sócios do Círculo de Leitores, o romance vai ser lançado brevemente pela Porto Editora, confirmando a tendência deste prémio para (também) revelar entre nós alguns interessantes autores do Brasil, depois de já anteriormente ter ajudado a lançar Adriana Lisboa em Portugal.