segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Seremos nós os alunos da escola do professor Piórkowski?
Hoje, tendo ligado inopinadamente a televisão num canal de notícias, deparei com o ministro das Finanças a fazer um piada sobre um deputado do BE, aconselhando-o a encetar uma carreira na ficção. Pareceu-me, pois, que a minha tarde devia concluir-se com um mergulho ainda mais radical no absurdo e, por isso, fechei-me na casa de banho a ler algumas páginas de Ferdydurke, o desconcertante romance de Witold Gombrowicz. Que coisa tremendamente inspiradora! Provavemente menos calhado para a ficção do que o deputado do BE visado pelo senhor ministro, imaginei, ainda assim, que Vítor Gaspar era o tutor da escola do professor Piórkowski, na qual os rapazes são internados para aprenderem a arte da ingenuidade e da inocência; e que, enquanto nós, os alunos, nos entretemos a proferir os palavrões mais cabeludos para descrever a política fiscal do Governo, alguém, talvez o próprio Vítor Gaspar, esteja escondido atrás de um carvalho tomando notas e comprazendo-se da nossa inocência, citando selvagemmente versos de Eugénio de Andrade e dando piruetas loucas enquanto, muito infantis e inocentes, continuamos a dizer frases veementes sem sermos capazes, porém, de sair da letargia ingénua da austeridade e, vá lá, de dar uns tabefes em meia-dúzia de palhaços que estão mesmo a pedi-las. Raios me partam se fantasiar coisas destas não pode ser uma extraordinária forma de terminar o dia.