quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Pequena elucubração semiótica à roda do traseiro de Scarlett Johansson
Graças ao Corriere dela Sera (coisa fina!), inteirei-me, enfim, das famosas fotografias privadas da actriz Scarlett Johansson, postas a circular por um hacker que agora está a ser julgado em tribunal. Trata-se de um episódio cujo único detalhe edificante se prende com a possibilidade de confirmar (se necessário fosse) que Scarlett, a gaja, tem um traseiro firme e seios bonitos (ou vice-versa), e um telemóvel com máquina fotográfica. A coexistência destes três itens, segundo parece, gera uma espécie de tentação pela vertigem do automironismo narcísico, fenómeno que, apesar das minhas naturais limitações, posso compreender e até aceitar com certo carinho (lamentando, embora, que não existam no mundo hackers suficientes para divulgarem todos os talentos inatos merecedores de prestígio internacional). Mas as fotografias de Scarlett parecem-me, isso sim, remeter para uma dimensão profundamente poética. Olhe-se por onde se olhar, a actriz aparece, nas imagens, tocada por uma melancolia profunda, sem truques, com uma borbulha na testa, um pouco desgrenhada e com olhos de quem acabou de acordar. É uma mulher normal, ou, pelo menos, uma mulher normal que tenha um traseiro firme e seios bonitos, mas que, apesar de toda a fama que tem e de todos os fotógrafos que já a fotografaram, chega a casa e, como qualquer ser humano enfadado e inseguro, enfrenta o desamparo da solidão e a necessidade inapelável de fotografar o próprio traseiro reflectido no espelho. Ninguém diga, pois, que está bem, mesmo se, à primeira vista, nada parece estar particularmente fora do sítio.