segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
O espiritismo dos outros e a lucidez de Woody Allen
A temporada cinematográfica está tomada pelo espiritismo e pelas manifestações paranormais. Pode ser uma coisa relativamente tolerável pelas pessoas que cresceram com o Harry Potter e, depois, evoluíram paras as histórias com vampiros, mas há gente que ainda foi educada de acordo com os melhores preceitos do positivismo e que, por isso, não vai à bola com mortos-vivos, almas (penadas ou não), crucifixos, religiões, espíritos e outras macacadas. O cinema da época, porém, vive disto. Iñarritu estragou um bom filme com aparições fantasmagóricas (Biutiful) e Clint Eastwood desperdiça talento a fazer um filme sobre excêntricos que comunicam com o além (Hereafter). Na verdade, conforme o meu filho bem lembrou, nem sequer Woody Allen dispensou, em Vais conhecer o homem dos teus sonhos, o aparecimento de uma vidente. Bem vistas as coisas, a Cristal de Allen e o George Lonegan de Eastwood são a mesma personagem. Mas Allen tem a sensatez de não tentar transformar uma caricatura num assunto sério. O cinema dá muitas voltas, mas pode-se sempre confiar no velho paranóico de Manhattan.