quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Exercício prático para descongelar as meninges e, quem sabe, dar ao mundo um espantoso performer (salvo seja)



Estava aqui a cogitar acrescentar mais alguns caracteres a uma coisa com a qual tenho andado a perder tempo, mas, depois de abrir o documento word respectivo, ocorreu-me que hoje não me apetece, não sei se por cansaço, por causa do frio que faz lá fora ou pela explosiva constatação da absoluta inutilidade do exercício da literatura quando praticado por um indivíduo sem nada que o recomende particularmente, excepto, se calhar, o facto de dar pouco trabalho a um eventual revisor. Talvez poupe, deste modo, duas ou três cigarrilhas, uma vez que queimo menos tabaco quando não tenho que fazer este esforço descomunal para pôr o tico e o teco em contacto, e, assim como assim, se é para escrever mais uma ou duas alarvidades, posso perfeitamente abrir o editor do blogue e ser imbecil com meia dúzia de pessoas a assistir, o que torna a coisa muito mais participativa. Se alguém, por exemplo, estiver agora a ler esta palavra, isto já é quase uma performance. A performance, aliás, é uma arte à qual eu não me tenho dedicado tão empenhadamente como devia, e é pena, uma vez que, com um ou dois uísques no bucho, eu tenho algum talento para ser um palhaço aceitável e para proferir inconveniências a que os cultores do humor negro conseguem achar alguma graça. Recordo-me que, no último encontro de escritores em que participei, ninguém deu grande atenção ao que eu disse sobre a literatura e as suas mágicas subtilezas, mas, em compensação, foi espectacularmente bem acolhido o momento em que eu fiz uma batucada na mesa, expondo-me um bocadinho ao ridículo, mas colhendo, outrossim, um merecido aplauso. Vou pensar nisto. É um exercício bestial para descongelar as meninges.