— Então e tu não vais para lado nenhum?
Cansa-me um pouco, confesso, responder à mesma pergunta de sempre.
— Vais ficar só por aqui?
Sim, e daí. Será mesmo obrigatório fugir? De quê?
— Não vais sair do Porto?
Ontem, para desenfastiar, respondi que tinha passado a tarde fora, mais concretamente em Matosinhos - uma mítica tarde de praia num areal pouco frequentado, tão boa que até arrisquei o primeiro mergulho do ano (e nem sequer sou gajo para grandes intimidades com a água). As noites também têm estado deliciosamente mornas e animadas. Aborrecer-me-ia em qualquer parte do mundo, como me aborreço aqui nas horas mortas, mas dificilmente passaria, onde quer que estivesse, tão bem como passo aqui, com os meus livros, a minha cama, os meus ritmos novos, a minha praia, a Baixa cheia de gente, a possibilidade de dormir até ao meio dia sem que venham bater à porta para limpar o quarto e sem a culpa de estar a perder um passeio absolutamente imperdível igualzinho ao do guia da Lonely Planet. E há ainda o restaurante de nha Iva, onde sempre posso passar antes de acabar a noite para dançar um funana, um zouk, eu sei lá, da dança só sei que são precisos dois e é conveniente mexer os pés mais ou menos a compasso. Como na vida.