domingo, 27 de junho de 2010

Da velocidade



O automóvel é demasiado rápido para quem pretende observar o que está à volta (do avião nem se fala, do avião não se vê nada que tenha uma escala humana aceitável, o mundo fica reduzido a tapetes de nuvens e cidades quietas como maquetas). Caminhar parece ser suficientemente pausado, sim, andar permite olhar, permite a distracção de passar alguns segundos com o olhar fixo numa árvore, numa casa, numa pessoa. E correr? Correr é um logro. Há uma idade a partir do qual se corre tão lentamente que parece possível observar enquanto se corre, como se se caminhasse. Mas trata-se de uma falácia. Quando se chega a essa idade em que só se corre devagar, os olhos já não são o que eram antes, as coisas apenas ganham consistência e interesse quando as vemos de perto. Mas, quando aí chegamos, e uma vez que vamos a correr, acontece tudo demasiado depressa.