Outro exemplo de que a história se repete pode ser lido no romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós. Mudando-se o corte dos vestidos, o design dos penteados e a tez branca de pó-de-arroz, aquelas cortesãs de Paris não diferem substancialmente da imensa e planetária legião de «influenciadoras», «artistas», «figuras públicas» e «criadoras de conteúdos digitais» que atravancam as redes sociais. Vem a propósito, por isso, recordar a judiciosa explicação de Jacinto sobre a criação e sustento dessas belezas artificiais:
Uma cidade como Paris, Zé Fernandes, precisa ter cortesãs de grande pompa e grande fausto. Ora para montar em Paris, nesta tremenda carestia de Paris, uma cocotte com os seus vestidos, os seus diamantes, os seus cavalos, os seus lacaios, os seus camarotes, as suas festas, o seu palacete, a sua publicidade, a sua insolência, é necessário que se agremiem umas poucas de fortunas, se forme um sindicato! Somos uns sete, no Clube. Eu pago um bocado... Mas meramente por Civismo, para dotar a cidade com uma cocotte monumental. De resto não chafurdo. Pobre Diana!... Dos ombros para baixo nem sei se tem a pele cor de neve ou cor de limão.
Agora globalize-se Paris, acrescente-se ao rol das ostentações as viagens às Maldivas e ao Dubai, os adereços de silicone, as sobrancelhas mil vezes repetidas, e multiplique-se por milhões o número dos pagantes do sindicato. Não é a cara chapada de uma rede social que cada um de nós conhece de ginjeira?