sábado, 6 de dezembro de 2025

Cantando e rindo a caminho do abismo

 A lamúria não é de hoje (nem de anteontem): os jornais estão a morrer e, com eles, o jornalismo (excepto nos casos em que certo interesses económicos mais ou menos ocultos sacrifiquem um cagagésimo dos respectivos lucros para sustentar um obscuro projecto de poder). Mas quase nunca se escuta um mea culpa a esses arautos, a esmagadora maioria dos quais é responsável, e há mais de vinte anos, pelo estado a que a comunicação social chegou.

Um dos mais tragicómicos exemplos disto é o chamado fact-checking, multiplicado por mil polígrafos e afins: depois de terem escancarado as portas e cafajestes manipuladores, transformando-os em líderes políticos eleitoralmente relevantes, os OCS lembraram-se de que talvez não fosse má ideia criar uma rubricazinha na qual se procurasse desmontar as atrocidades que aqueles energúmenos proclamam a toda a hora.

A ideia não seria completamente estulta se aqueles que acreditam nas mentiras dos mussolinis de carnaval alguma vez pudessem ser esclarecidos pela exibição da verdade. Mas não podem. Estão tão intoxicados e imbecilizados pela ditadura algorítmica que nem sequer tomam conhecimentos dos desmentidos proporcionados pela chamada verificação dos factos.

Pior do que isso: ao tratar do mesmo modo meras imprecisões e as falsidades absolutamente premeditadas, selvagens e soezes dos cheganos e dos seus imitadores, os OCS, os jornais e o que resta do jornalismo limitam-se a transmitir a sensação de que está tudo ao mesmo nível, assim contribuindo para a grande marcha do novo fascismo sobre o que resta da inteligência do mundo.