De acordo com um candidato presidencial habitualmente bem informado, Portugal recebeu até agora 188 mil milhões de euros de fundos comunitários. O resultado: uma paupérrima convergência de 1% com a União Europeia.
Façamos uma conta absurda: divididos irmãmente, daqueles 188 mil milhões caberiam quase 19 milhões a cada português. Mesmo que o Estado tivesse ficado com dois terços do dinheiro para fazer obras e investimentos realmente úteis para a comunidade, cada um de nós teria recebido qualquer coisa como seis milhões de euros.
É um número que impressiona. O que teríamos feito com seis milhões de euros nestes 40 anos? É bastante provável que o tivéssemos também malbaratado, dispersando-o, ainda assim, na economia (que talvez, deste modo, tivesse convergido um pouco mais com a média europeia; fazer pior era difícil). Teríamos tido o direito, para além disso, ao nosso próprio desperdício e à nossa falta de tino.
Assistimos, em vez disso - tantas vezes com frio, tantas vezes com fome, tantas vezes contando os trocos -, à concentração daquele guito nas mãos do costume, ao desperdício alheio, à alimentação de redes de corrupção e compadrio, à formação de oligarquias e à destruição sistemática do nosso património comum na saúde, na educação, na energia, na habitação.
Talvez alguém menos irrelevante devesse explicá-lo todos os dias na televisão. Mas é mais fácil alimentar o ódio entre aqueles que nunca viram a cor aos milhões.