sexta-feira, 28 de julho de 2023

Os poetas selvagens do Chile

 


O nevoento e ventoso Julho, o Julho das esperas, animou-se-me com a leitura de Poeta Chileno, o romance de Alejandro Zambra. O título, a nacionalidade do autor e a frase publicitária inserida na capa remetem, de algum modo, para o universo de Roberto Bolaño, o que comporta certos riscos, na medida em que o truque ajuda a atrair leitores de Bolaño e pode facilmente iludi-los e desiludi-los. Até à página 200, porém, nada parece relacionar este livro com o autor de 2666. A partir daí surge Pru, uma norte-americana que se propõe escrever um artigo sobre os poetas chilenos, cabendo-lhe ser, portanto, uma espécie de detective selvagem em busca dos segredos da efervescente poesia do Chile. O livro nunca chega, porém, a ser bolañiano, o que parece uma boa opção, dando a conhecer, em vez disso, um autor singular, ao mesmo tempo culto e dotado de um excelente sentido de humor. Uma bela surpresa.

No centro da narração estão não um, mas dois poetas chilenos, Gonzalo, autor de um único livro que ninguém leu, e Vicente, uma espécie de enteado daquele e ainda inédito. Para além de Pru, ocupa ainda lugar central na história uma outra mulher, Carla, namorada do primeiro poeta e mãe do segundo. E depois há toda uma galeria de personagens efémeras, poetas e não poetas, poetas-curandeiras e poetas machistas, poetas obscuros e poetas brigões, poetas bêbedos e poetas lésbicas, poetas que vendem colchões e poetas que aprenderam a falar Inglês com os Radiohead. Vale a pena conhecê-los a todos.