terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

A tragédia de não saber estar calado


Há as tragédias que passam na televisão a todas as horas e aquelas de que os media se esquecem e de que nos esquecemos por não ser possível estar sempre a pensar em misérias, guerras, devastações, escândalos e desgraças. Mas as catástrofes esquecidas não desaparecem do mundo por mero exercício da vontade ou por distração. No México, por exemplo, há vinte e oito mil mulheres desaparecidas e provavelmente mortas desde há muitos anos — como num romance de Roberto Bolaño —, abandonadas em algum lugar do deserto sem que milhares de famílias saibam o que lhes sucedeu e estejam agora a cortar estradas para forçar as autoridades a agir. Também não desaparece, por desaparecer dos noticiários, o drama das migrações, a propósito do qual o seríssimo edil de Lisboa afirmou hoje que não aceita lições de ninguém, pois já foi emigrante e é casado com uma emigrante — assim demonstrando a tragédia que há em não saber estar calado. Mal comparando, Moedas faz lembrar Donald Trump, aquele que queria um muro na fronteira Sul dos Estados Unidos para evitar que os assassinos e violadores (os sul-americanos) continuassem a invadir o seu quintal, condenando-os à morte na berma de alguma estrada do caminho. Algo que moedas, o emigrante, jamais saberá o que é.