terça-feira, 1 de outubro de 2019

Oblomov

Iliá Ilich Oblomov, a personagem de Ivan Goncharov, não foi sempre este lendário preguiçoso, apático e indolente, que vegeta na cama do seu apartamento na Rua Gorókhovaia ou que, quando muito, se arrasta até ao sofá embrulhado no robe de seda. Houve um tempo em que Oblomov teve um emprego e chegou ao ponto de aí executar os trabalhos que dele naturalmente se esperavam, os quais se via obrigado a desempenhar "sempre com muita pressa", num afã. "Quando vou eu viver? Quando vou eu viver?", perguntava-se. Livre do trabalho e com todo o tempo à sua disposição para se dedicar a viver convenientemente, Oblomov não faz, todavia, nada que preste, incapaz de dar qualquer uso útil às horas e aos dias. Procrastina, preguiça, filosofa em vão, medita. Mas em nenhum momento se sente ignóbil e indigno por não fazer a ponta de um corno.