sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Cereja

As eleições na Grécia aproximam-se e parece que o Syriza pode realmente ganhar (depois de toda a chantagem e de todo o preconceito). Entusiasmo-me um pouco com o Syriza, mas não já grande coisa, como me entusiasmei com Lula e com Obama. Gosto de acreditar ainda um pouco, mas não muito (que já não tenho idade para grandes desilusões), que ainda é possível ver um país com um governo realmente de esquerda, que governe para as pessoas reais (para as quais a inflação não é motivo para deitar foguetes) e que não acabe acobardado, corrompido, comprado, acomodado, bem comportado e bom aluno, transformado num mal menor e tolerado pelos cabrões da banca e da finança, e comendo à mesa com eles - igual aos outros enfim. Gosto do Syriza e gosto dos gregos que têm coragem de votar no Syriza e de dar uma vitória eleitoral ao Syriza, que ao menos têm coragem e tentam mudar a merda para atordoar e confundir um pouco as moscas de sempre. Gosto do Syriza e, se calhar, é apenas porque syriza, a palavra syriza, me faz lembrar a palavra cereja e, por causa disso, ouço e leio a palavra syriza e penso na Primavera e nos seus dias longos, na vida renascendo e no sabor doce da cereja acabada de romper com os dentes.