segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Os entardeceres também têm sido frescos

















Estrada de Circunvalação, Porto/Matosinhos, Dezembro de 2014

Desconheço quanto vale um instante na bolsa de valores, qual a cotação dele face ao dólar ou se de algum modo é possível viver de instantes acima das nossas possibilidades. Não quero saber. Mas há um momento qualquer, quando a rotação da terra oculta o sol para lá da linha do horizonte, no instante que eclode depois disto, em que o céu, a terra e o mar se enchem de uma vaga magia pagã - um truque de ilusionista de circo transbordando o céu de lona das tendas. O mar adquire um tom de chumbo quente e móvel e as ondas desfazem-se mais lentamente no murmúrio da areia. Corro, vejo e ouço. O rio pinta-se de céu como se fora um espelho e, no alto das palmeiras do Passeio Alegre, milhares de pequenos pássaros invisíveis chilreiam em festa como se gorjeassem num país quente e distante. Escuto-os e comovo-me enquanto passo correndo. Mesmo que a maravilha dure só um instante, vale a vida toda e (ainda) não paga imposto.