quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cante

Olha as folhas correndo em bando pelo meio da auto-estrada: vê as folhas secas e velhas, que felizes parecem agora que, ao vento, podem ir aos pinotes pelo asfalto. Repara que as árvores nuas, indecentes, já não pedem que lhes espreites para o decote: abrem os braços e mostram-se como vieram ao mundo. Nota que as nuvens escuras do céu estão compondo obras-primas que nenhuma fotografia imitará; e que a chuva lava e limpa, e que o vento sopra e apenas liberta os cabelos que estavam presos e amarrados. Constata que o tempo passa, os anos passam e os dias passam, e que alguma beleza guardam as rugas em volta dos teus olhos, no riso que só agora, velho, sabes sorrir.