sábado, 15 de fevereiro de 2014

Mortos vivos

















As primeiras coisas deixou-me ainda a pensar na ideia segundo a qual os mortos sobrevivem à morte — um mantra que se repete e se entranha. Como em Hiroxima depois da bomba, onde os corpos vaporizados pelo sopro nuclear desenharam silhuetas eternas nas paredes, também as nossas maiores perdas deixam para trás uma sombra que fica para sempre, que não se extingue e que a memória mantém viva a cada instante do dia: porque estivemos juntos naquele jardim, olhámos a mesma lua ou falávamos ao telefone no instante em que se passou por uma determinada curva de uma estrada da periferia. Como em Hiroxima, depois do "clarão de uma beleza total" a morte é absoluta e não é. Os mortos persistem. Habitam a sua própria ausência.