segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Comoção e fúria, guarda-chuvas

É frequente ter alguma dificuldade para me lembrar dos livros que li nos últimos meses. Não será por isso, ainda assim, que desta vez não farei uma lista das minhas melhores leituras de 2013. Apetece-me, em vez disso, destacar um só livro, com o qual mergulhei num universo onde o bem e o mal se confundem e entrelaçam, que comove e impressiona — que, enfim, envolve o leitor, levando-o a tomar partido por uma ou outra personagem, a temer pela sua sorte e a lamentar o destino que têm. Falo do extraordinário Para onde vão os guarda-chuvas, do Afonso Cruz, do qual também este ano li A Boneca de Kokoshka. Apetece, sobre o mais recente romance do Afonso, escrever algo semelhante ao que Italo Calvino escreveu sobre Una questione privata, de Beppe Fenoglio; que é "um livro absurdo, misterioso, no qual aquilo que acontece acontece para acontecer outra coisa, e essa outra coisa para acontecer outra ainda e nunca se chega ao verdadeiro porquê"; um livro, enfim, de "comoção e fúria", que se não perderá como sucede aos guarda-chuvas.