segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cansado da realidade

A última coisa que escrevi recreativamente foi um poema — imagine-se! —, e ainda por cima muito pueril e lírico, relativo a uma tarde feliz de praia num domingo que por fora parecia de Inverno, mas que tinha a dimensão subjectiva dos momentos a caminho da eternidade. Bem sei que ainda há notícias desagradáveis no exterior da bolha de alienação que tenho vindo a urdir em meu redor, gente que morre, acidentes de viação, uma entidade desgovernada que dá pelo nome de governo, manifestações, golpes de estado, tomadas de posição inflamadas, mas informo-me dessas coisas do mundo real apenas de modo escasso e enfadado. Raramente vejo os jornais, borrifo-me para as flutuações dos mercados e não me interessa se o presidente da república despertará da letargia conivente para convocar eleições antecipadas, na medida em que imagino, também antecipadamente, que ganhará um dos partidos do costume para que tudo continue na mesma. Estou cansado da realidade, enjoado da realidade. Ganhei-lhe raiva e ao país com ela, e só me interessa a sorte das pessoas a quem quero bem, mesmo se parecem distantes e se não telefonam nem dão notícias. Suponho que eles sabem que estou aqui e que gosto muito deles, que os não esqueço, e até podia telefonar-lhes para recordá-lo, mas não gosto de falar ao telefone. Prefiro encontrá-los por acaso aí pelas esquinas do mundo e abraçá-los como quem se despede até já e nunca se perde.