sexta-feira, 19 de abril de 2013

Fragmento que ficou de fora de "Uma Mentira Mil Vezes Repetida"



(...)Se procuro manter-me optimista, não deixo, por outro lado, de notar como é efémera a celebridade dos indivíduos que não se limitaram a fingir ler um falso romance. Mesmo entre os que realmente escreveram livros e, por via disso, desfrutaram de alguma fama, a maior parte acaba por ser completamente esquecida ao fim de um par de anos. As obras deles deixam de ser lidas, desaparecem das estantes das livrarias e acabam ganhando fungos em armazéns húmidos. Quando os seus nomes foram perpetuados nas placas toponímicas das cidades, as pessoas esquecem-nos igualmente: não sabem quem foram, o que fizeram ou por que raio uma determinada rua foi batizada com o nome de um perfeito desconhecido.
Aspiro, felizmente, a um género diferente de celebridade, que seja, primeiro, retumbante como uma grande festa, e, depois, tão fugaz e inesquecível como o cheiro da terra molhada no fim de uma tarde de Verão absolutamente perfeita. Mesmo depois de se terem consumido os dez minutos de fama a que tenho direito, as belas mentiras que eu tenha sido capaz de contar ainda continuarão, espero, a ser recordadas com certa nostalgia pelos utentes dos transportes públicos, repetidas, reinventadas e eventualmente integradas em livros de verdade que venham a ser realmente escritos por quem tenha mais tempo para perder. (...)