Ser ou não ser notícia

Quando aprendi os rudimentos do jornalismo, já lá vão uns anos, ainda se utilizava com alguma frequência a máxima segundo a qual um cão morder um homem não era motivo de notícia. Se um homem mordesse um cão, aí sim, dar-se-ia conta do caso insólito. Daí que, por óbvia inadequação minha ao chamado ar do tempo, tenha hoje ficado a dar voltas ao anúncio segundo o qual o Governo cogita a possibilidade de tornar permanentes os cortes temporários nos subsídios de desemprego e de doença. Se não estou a ver mal a coisa, aquela possibilidade, a confirmar-se, equivalerá à prosaica mordidela do cão raivoso de sempre no transeunte do costume. Notícia seria o Governo cumprir, ao menos uma vez, uma promessa, garantia ou previsão que fosse, o que há-de acontecer, se a minha bola de cristal não me induz em erro, no dia em que as galinhas tiverem dentes.