domingo, 18 de novembro de 2012

O Pina faria hoje 69 anos


Se não tivesse, tão cedo, ido fazer companhia aos seres humanos e não humanos que se lhe anteciparam na morte (a imagem foi usada pela Ana Pina na sessão que hoje o recordou), o Manuel António Pina faria hoje 69 anos. Por isso nos juntámos no Museu da Imprensa para ouvir outra vez a voz dele e sentir saudades das frases que escrevia e dizia. Por duas vezes, enquanto ali estava, tive vontade de chorar: das duas vezes que se ouviu a canção que o Pina escreveu para a filha, A Ana Quer

...cá fora está-se bem
mas na barriga também
era divertido
o coração ali à mão
os pulmões ali ao pé
ver como a mãe é
do lado que não se vê...


e não sei bem porquê. O Pina faz-me falta, faz-nos falta a todos, mas tudo o que fosse capaz de escrever seria sempre pouco, tanto foi o que ele deu mesmo a quem, como eu, só tangencialmente esbarrou nele. Viver num sítio onde o Pina subitamente nos falha é mais estúpido, muito mais estúpido, talvez por sabermos, como a Ana disse, que vivemos entre pessoas que estão incompreensivelmente vivas mesmo depois de o Pina ter morrido. Estamos como que a mais no mundo.

(na foto: máquina de escrever e óculos de Manuel António Pina, patentes na exposição que hoje se inaugurou no Museu da Imprensa)