Concedo-me, em alguns domingos, a vaidade e o prazer de comprar o El País e de ficar um bom bocado a usufruir do prazer de ler um jornal a sério. Não é um vício barato, mas o vinho tinto e as cigarrilhas tampouco o são. E, em todo o caso, trata-se de um luxo bastante educativo. A manchete de hoje, por exemplo, revela que o governo alemão pretende fazer depender um novo empréstimo à Grécia do envio de um funcionário de Bruxelas que vigiará as contas e zelará para que os impostos pagos pelos gregos sejam usados prioritariamente no pagamento da dívida do país (e não para prover as necessidades dos gregos). O El País chama-lhe um "comissário orçamental", ao qual caberia daria o golpe final ao que resta da soberania fiscal grega. Trata-se, pois, de uma espécie de novo governador das colónias.
Algumas páginas adiante, Carmen Reinhart, economista do Peterson Institute que participa no Fórum Económico Mundial, vaticina que a Grécia e talvez também Portugal suspenderão o pagamento da dívida, acrescentando, indiferente às garantias de Bean Gaspar, que a situação portuguesa "é cada vez mais preocupante para Espanha". Tão tardará muito, portanto, para que também a esta província sejam mandados, já não os troikianos emissários da finança internacional, mas um verdadeiro capataz que venha ensinar os bárbaros como devem administrar os seus botões.