sábado, 17 de setembro de 2011
O mundo posto de luz
Terminei O Filho de Mil Homens, o novo romance do Valter Hugo Mãe, que chega na sexta-feira às livrarias. E o que posso dizer? Pois que o livro tem alguma coisa do grotesco e da crueldade que havia n'O Remorso de Baltazar Serapião, mas também aquele modo onírico e poético que o Valter tem de olhar para as coisas, sendo capaz de ver nelas como que relâmpagos que nós, os outros, não conseguimos perceber, ver, cheirar. Há uma anã com as costas presas por parafusos e outras pessoas muitíssimo desgraçadas, mas há também Crisóstomo, um homem de quarenta anos cujo optimismo espalhará felicidade a toda a volta, criando um mundo de pessoas postas de luz, "como se caíssem de um candeeiro". Eu, que também tenho quarenta anos, talvez pudesse aprender com o Crisóstomo todas as lições que ele ensina, a lição da felicidade como uma doença benévola que se espalha e a lição que ensina a inventar uma família que preencha o vazio que existe quando se é só metade (ou menos) do que se podia ser.