terça-feira, 20 de setembro de 2011
Deixai comer os passarinhos (que eles ficam mais tenros quando estão gorditos)
Há algumas semanas atrás, a Câmara do Porto, que tudo vê e tudo sabe (buuuhhuuuuuu), ameaçou com coimas (e creio que até com alguns açoites) os munícipes que se dedicam a alimentar os animais selvagens (a saber: pombas, gatos, cães e gaivotas) que demonstram ser suficientemente rijos para sobreviver num ambiente tão hostil como a cidade do Porto. Ignoro se já há cidadãos que, por causa disto, tenham sido multados (ou banidos do convívio social), mas, em todo o caso, reparei no cidadão que hoje andava de um lado para o outro junto aos paços do concelho, com uma velha mochila às costas, da qual caía um fio de uma espécie de farinha, criando atrás de si uma trilha quase invisível. Ponderei advertir o cidadão do facto e dizer-lhe que tinha a mochila rota, mas reparei que ele estendia a mão para as costas e deixava que o farelo lhe enchesse a mão. Acto contínuo, atirava aquilo para o chão, atraindo a passarada e, assim, desrespeitando a municipal postura mesmo nas barbas dos funcionários. As pombas vieram em bando, passaram sobre mim a voar e foram debicar do chão aquilo que devia ser uma espécie de milho moído. Achei tudo belíssimo — o desafio à autoridade, o dar de comer aos bichos e até uma certa poesia (digamos assim) que quis ver naquele gesto benévolo e caridoso. Os pombos hão-de acabar por ficar gordinhos e, afinal de contas, os tempos são de crise e até os indigentes carecem de proteínas. Parece que os pombos ficam muito bem com arroz malandrinho.