No domingo, ao final da tarde, desaguei na Avenida dos Aliados com dois brasileiros a quem tentava mostrar a cidade (quase fechada) e dei com a praça transformada, a pretexto do Carnaval, numa espécie de feira popular ultra-pindérica, com carrosseizinhos, carrinhos, barraquinhas de pipocas e farturas. A coisa acontecia com o beneplácito da câmara e da empresa municipal Porto Lazer e eu senti uma vergonha enorme por ter a sala de visitas da minha cidade transformada naquilo. Pedimos desculpa aos brasileiros (e que tentassem, por favor, abstrair-se do horror cincundante).
Como a verdade não é unívoca, percebi, conversando com a minha mãe, que uma parte dos cidadãos da minha cidade andavam comentando que a Baixa estava muito bonita para o Carnaval. Percebe-se: o Porto é, hoje, uma cidade paroquial e profundamente parola. As pessoas gostam de festarolas como já nem nas vilórias do interior se usa. Votam em quem votam. E a cidade definha alegremente.
Parolos, entendamo-nos, existem em toda a parte, até em Londres, Paris e Nova Iorque. A diferença entre as cidades que crescem, criam emprego, se desenvolvem e são dinâmicas, e as outras, há-de radicar apenas na percentagem de parolos que nelas residem. Quando os parolos são em número suficiente para ganhar eleições, é perfeitamente possível que se elejam políticos profundamente parolos, provincianos e populistas, que perseverarão em manter satisfeitos os seus eleitores parolos. É assim o Porto. E, no domingo, eu tive mais vergonha ainda.