Já ninguém se lembra disto, nem interessa nada, que o povo vota mal ou bem sem olhar a quem, mas, há oito anos, recordo-me perfeitamente porque estava lá, Rui Rio foi eleito para a presidência da Câmara do Porto prometendo, entre outras coisas, que iria promover a requalificação da Baixa. Para tal, propunha-se, mal ou bem, também não sou urbanista, congelar os licenciamentos no resto da cidade, de modo a que os empreiteiros, classe profissional vulgarmente designada pela expressão "a corja", se vissem obrigados a investir no centro da cidade. Não tenho números nem estatísticas, fé que não domino e da qual não sou crente, mas posso ver que a Baixa está como estava, esvaindo-se (com excepção das zonas em que alguém resolveu fazer alguma coisa apesar de Rui Rio), enquanto, no resto da cidade, do Freixo a Nevogilde, florescem maravilhosos empreendimentos de luxo, com áreas amplas, belas vistas e acabamentos não sei quê. Como se isto não bastasse, a própria câmara vai promover a demolição de um bairro social com vistas de rio e mar para que ali se construa mais um condomínio a preceito, dos Espírito Santo ou de qualquer outra família tradicional de boa cepa e como deus quer, um condomínio, dizia, no qual os grandes traficantes de droga e outros meliantes poderão adquirir habitações adequadas ao seu estatuto social e aos oito ou nove mil milhões de euros desaparecidos das contas do BPN. Eles andam aí e têm de ser gastos em algum lado.
(desculpar-me-ão, decerto, a evidente má disposição e o mau feitio, mas, bem vistas as coisas, um exílio poético e perto da praia é capaz de ser uma coisa que vem bastante a calhar; fico, mais do que agradecido, verdadeiramente penhorado, meu caro Nuno)