domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mickey Rourke

Mickey Rourke, o actor, está de regresso às salas de cinema com The Wrestler, que ainda não estreou em Portugal, mas que está a chegar e que eu hei-de ver, ou não fosse Rourke uma espécie de ícone sombrio da minha geração cinematográfica. Quando era adolescente, tinha um amigo que, desejando tornar-se actor, hesitava entre ser Rourke ou De Niro. A mim, Rourke ensinou-me o que é ter medo do futuro.

The Wrestler, parece, traz de volta o Rourke das interpretações portentosas e, pelos vistos, até pode vir a valer-lhe um Oscar. Como é habitual, a ocasião serve para passar em revista a carreira daquele que chegou a ser considerado um dos maiores actores da sua geração, mas cuja vida, tal como hoje ele reconhece na revista dominical do El País, se consumou numa espécie de lenta destruição.

Toda a gente parece recordar-se de Nove Semanas e Meia, que foi o Último Tango em Paris da minha geração (íamos vê-lo apesar de nos faltar idade, às escondidas, para nos excitarmos com a luminosa volúpia do corpo de Kim Bassinger), e também de Orquídea Selvagem e Angel Heart, no qual Mickey contracena com Robert De Niro num triller bastante interessante, diabólico. Mas eu, sempre que penso em Mickey Rourke, lembro-me é de Barfly, o filme que Barbet Schroeder realizou a partir do argumento de Charles Bukowski.

Em Barfly, de 1987, Rourke é Henry Chinaski, um escritor genial e louco, alcoólico, miserável e brigão, mulherengo, um pouco à imagem de Bukowski. Quando vi o filme era apenas um adolescente que queria escrever, mas que não sabia ainda o que tal propensão lhe podia reservar na vida. Três anos depois era já jornalista profissional, com um ordenado e regalias sociais anexas, mas, em 1987/88, admitia tudo, inclusivamente um destino semelhante ao de Chinaski. Foi, creio, a primeira vez que senti uma angústia real, palpável, densa. Tive medo, sim, mas um desses medos que precede o salto no abismo, como se a inqualificável vida de Chinaski me assustasse e atraísse ao mesmo tempo.

Não importam muito, agora, os motivos do caminho que depois tomei, mas apenas considerar que, quando vi Barfly, tive medo. E que, depois disso, o covarde que havia em mim triunfou sobre tudo o resto.