sábado, 3 de janeiro de 2009

Valsa com Bashir

Assisto a A Valsa com Bashir, do israelita Ari Folman, enquanto as bombas caem sobre Gaza. Não posso dizer quantos mísseis e projecteis terão caído durante a hora e meia que dura o filme. Terão sido muitos. Algumas pessoas reais terão perdido a vida enquanto um desenho animado tenta recuperar a memória perdida do massacre de Sabra e Shatila.

Em 1982, a aliança de israelitas e milícias católicas permitiu a chacina de entre 328 e 3.500 pessoas (conforme as versões). Em Gaza, agora, terão já perdido a vida cerca de 400 pessoas, contando-se mais 1.450 feridos. E o exército ainda nem sequer disparou um tiro.

Os episódios são naturalmente incomparáveis, mas a experiência tem algo de estranho, de radicalmente violento (no sentido mais silencioso e subterrâneo da expressão). Quando o filme termina, com as imagens reais de mulheres árabes libanesas gritando os seus mortos, não tive vontade de me levantar e sair da sala. Ninguém se levantou, aliás, até que um funcionário do cinema tivesse vindo abrir a porta, empurrando a luz e a normalidade do quotidiano para dentro da sala - para dentro de nós.