segunda-feira, 18 de março de 2013

Cabo Horn



Pode escrever-se um enorme romance apenas tendo como ponto de partida a triste história de Susi Armendáriz, ou que me parece triste quando a imagino imóvel e apenas conhecendo da vida e do mundo aquilo que foi lendo nos livros; mas é possível que tenha sido uma história feliz. Pode-se, em todo o caso, imaginá-la conforme se quiser, mais jubilosa ou mais nostálgica, supondo o que levava Susi Armendáriz a nunca se fartar de ler os romances e as histórias dos livros, e inventando que livros ela lia, o seu tom de voz, o gesto das mãos folheando as páginas, os olhos cegos e vazios daqueles que escutavam e depois os seus próprios olhos vazios e cegos. Pode-se muito bem escrever a vida de Susi Armendáriz sem tê-la vivido, sem tê-la conhecido, sem jamais a ter visto. Mas talvez não seja possível fazer tudo isto sem ter ido ao Cabo Horn.