quinta-feira, 26 de julho de 2018

Kentaro

Foi há muito tempo que li a notícia da morte de Kentaro. Durante quase dois anos, desde que foi libertado do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, percorreu cerca de três mil quilómetros de montes e vales da Península Ibérica, livre como uma corrente de ar. Imaginei, lendo a notícia, que Kentaro corria pelo deserto manchego, nos montes de Castela, pelos bosques galegos, entre as vinhas do Minho – veloz, vibrante e furtivo, um raio passando na dobra da tarde –, para vir, afinal, morrer atropelado numa estrada do concelho da Maia. E depois nunca mais o esqueci, provavelmente porque a vida de Kentaro, rápida como a de James Dean, me pareceu uma metáfora demasiado bela do confuso sentido que a vida tem.