terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ah!, o outonal desfrute das juristas

O panorama da Justiça portuguesa não será dos mais animadores. Os processos arrastam-se, os deserdados sem dinheiro para contratar advogados malabaristas têm poucas possibilidades de sucesso, o Citius fraqueja, os processos desaparecem e os melancólicos juízes do Supremo também já tiveram melhores dias, reduzindo uma indemnização por erro médico com o argumento de que, depois dos 50 anos, o sexo já não tem a mesma importância de antigamente. O único verdadeiro sinal de esperança, talvez o derradeiro viço do sistema judicial, vem da Associação Portuguesa das Mulheres Juristas. Segundo o jornais, esta dinâmica e vibrante agremiação reagiu ao acabrunhado e geriátrico acórdão do Supremo considerando, sem meias palavras, que a idade "potencia o pleno desfrute do sexo". Podemos bem imaginá-las, às juristas post-balzaquianas, correndo os olhos pelas salas de audiência do novo mapa judiciário quais felinos perscrutando as promessas da savana. Podemos supor que, sob as pardacentas togas, palpitam ainda corpos por saciar, Dianas em caça, doces desejos de uma carícia ao menos. E podemos fazer votos de que continuem a desfrutar plenamente do sexo e das suas infinitas delícias, e a beneficiar do "direito constitucional a uma vida sexual activa". Se, à conta disso, algum prazo judicial não for cumprido, ou se algum crime prescrever, saberemos ser compreensivos. De entre todas as causas para os atrasos da Justiça, o desfrute delas será, decerto, a mais aceitável de todas.