terça-feira, 17 de junho de 2014

Uma pesada derrota














Tal como terá sucedido a outros cidadãos com residência fixa neste país, passei as últimas horas a tentar evitar o refrigério que é escutar os comentários ao primeiro jogo da selecção portuguesa de futebol no campeonato do mundo do mesmo, frente à Alemanha. Acordei, ainda assim, com a repetição agónica dos adjectivos "humilhação" e "vergonha", os quais, pelos vistos, foram utilizados durante o relato do jogo na rádio pública.

É bem curioso isto.

Perder a selecção portuguesa de futebol com a alemã por 4-0 é uma catástrofe que há-de ser proclamada por centenas de radiofónicos e sofridos brados, infinitos programas de televisão em directo ou entusiasmadas conversas de café (incluindo-se aqui as declinações electrónicas). Mas qualquer notícia informando sobre os lucros que a banca alemã tem acumulado graças à ruinosa gestão da dívida portuguesa pelos políticos que elegemos não merecerá dos bravos lusíadas, dos patrióticos netos do egrégios avós, mais do que um bocejo e um encolher de ombros — ou, no máximo, um assomo de indignação breve e inconsequente.

É como diz o José Vítor Malheiros na crónica de hoje: "há um Portugal que morre, enquanto o resto de Portugal boceja. Ou cachecoleja com o Mundial."