Eram grandes, carnudas, quase negras. Agarraram-me pelo braço quando subia a Rua do Almada e não resisti. Entrei na minúscula mercearia e pedi para ser servido. A senhora que estava na espécie de sala que há para lá do pequeno balcão, nos fundos da loja, garantiu que eram tão boas como pareciam. “Chegaram há pouco. Que lhe saibam bem e depois venha comprar mais”, desejou a merceeira. Levei seiscentos gramas e fugi para casa. Comi-as todas, uma a uma, regalando-me com o modo como me rebentavam na boca; como o suco, doce e amargo numa proporção perfeita, me inundava as papilas. Às vezes bastam cerejas. Cerejas.