quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Thin red line


Passei há coisa de dois anos na estrada que esta semana ruiu entre Vila Viçosa e Borba. Embora tenha percebido que havia pedreiras de mármore de ambos os lados da estrada, só compreendi o risco que havia corrido quando, no último Verão, a transmissão em directo da Volta a Portugal em Bicicleta mostrou imagens aéreas da inacreditável escarpa que ali estava criada, uma fina tira de estrada entre dois buracos gigantescos.

Agora que a estrada caiu, não falta quem aponte responsáveis e garanta que já tinha alertado para o perigo. Haverá sempre o autarca que não mandou fechar a estrada a tempo de evitar o desastre, os técnicos que atestaram a segurança da exploração de mármore naquelas incríveis condições, os responsáveis do organismo público que licencia as pedreiras. Talvez tenham todos as mãos proverbialmente untadas ou sejam, pelo menos, cúmplices da tragédia, mas tenho ouvido falar muito pouco dos proprietários das pedreiras, os quais, movidos pelo lucro a todo o custo, criaram a insustentável parede que agora ruiu sob a estrada, causando não se sabe ainda quantas vítimas. E foram, afinal, os únicos que realmente lucraram com estas mortes.