quarta-feira, 15 de junho de 2016

Minha Luta

Estive duas tardes inteiras na Feira do Livro de Lisboa no fim-de-semana passado. Ao todo, foram nove horas a ver passar pessoas de um lado para o outro. Assinei quatro livros enquanto a multidão esgotava as existências do Mein Kampf num stand mais acima, a despeito de Adolf Hitler já não estar em condições de dar autógrafos.

Leio agora a entrevista em que o inglês Howard Jacobsen ironiza com a ideia de que tem cada vez menos leitores à medida que escreve mais livros e se torna mais conhecido. Talvez não seja um fenómeno tão bizarro assim. Entre um criminoso morto e um escritor disponível para escrever, conversar e dar autógrafos, as pessoas preferem o criminoso com o ridículo bigodinho de palhaço, ou o palhaço rico com o penteado esquisito de esquilo morto.

À minha luta perco-a, assim, a cada dia que passa e a cada livro que escrevo. Cada vez me doem mais os dias e os livros. Cada vez magoa mais a certeza de que os escrevo para (quase) ninguém.