quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Como se fosse um livro de Bolaño

Tenho acompanhado com algum interesse o caso dos 43 estudantes mexicanos desaparecidos no estado de Guerrero, no México, depois de terem participado numa manifestação e de terem sido vistos a entrar em carros da polícia. As investigações já conduziram à detenção de um ex-autarca e da respectiva esposa, ambos com ligações aos cartéis de droga locais, e têm-se centrado nos corpos existentes em valas comuns que, segundo as notícias, "abundam em Guerrero". Imagino, por um instante, um mundo assim, no qual abundam valas comuns, cartéis de droga, autarcas corruptos e estudantes que, depois da explosão crepuscular de Guerrero, desaparecem como se se tivessem evaporado - e parece-me que é tudo exactamente como num livro do Roberto Bolaño: excessivo, fantástico, opressivo e teatral, como um grito mudo ou o gume de uma faca.