segunda-feira, 17 de março de 2014

Anjos, demónios, gente morta

Julguei uma vez que tinha fotografado um anjo. Mas talvez fosse um demónio. Agora não tenho a certeza. As asas ainda lá estão. São de pedra. Revia-as e fui sentar-me ao sol a terminar de (re)ler o Cem Anos de Solidão. O realismo mágico tem a vantagem de ajudar a entender certas coisas segundo uma perspectiva extravagante. A história dos Buendía está cheia de gente viva que parece já estar morta e de defuntos que continuam a habitar o mundo dos vivos. Talvez seja normal, por isso, que os anjos possam ser também demónios, e que continuem presentes mesmo quando tudo o que resta deles são as asas de pedra esquecidas ao sol.