sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Ainda estamos vivos















Demorei duas semanas e dois dias, salvo erro, a ler 2666, o romance de Roberto Bolaño. Foram duas semanas que passei como se estivesse a atravessar um túnel muito negro sem luz ao fundo. Ao fim de ler aquelas mais de mil páginas, e quando tento determinar, sei lá porquê, qual das histórias mais me marcou, penso no longo catálogo de mulheres mortas na cidade de Santa Teresa, nas crianças polacas que estavam sempre bêbadas e a jogar futebol (e que se entretinham também a ajudar a matar judeus), nos olhos malignos de Klaus, na beleza discreta de Rosa Almafitano e na beleza extravagante e um pouco louca de Liz Norton, a especialista na obra de Benno von Archimboldi. Mas nada há-de ser tão certo quanto a frase que diz Fate, o jornalista norte-americano, ao sair de Santa Teresa sem ter sido morto: "Ainda estamos vivos". Ainda estamos vivos, pois. Ou, pelo menos, é o que parece quando se olha para nós de longe.