quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Lost in transit

Isto podia ser o início de mais um conto como aqueles que escrevi para o livro "Zero à Esquerda", vago, fugidio e contaminado por uma certa melancolia. Seria, ainda por cima, muito meta-literário, pois a história inclui o próprio livro. Mas não é disso que se trata.

Encomendei, há mais de dois meses, alguns exemplares de "Zero à Esquerda" à empresa norte-americana que permite que o livro possa ser vendido para qualquer parte do mundo através da Amazon, graças ao sistema print-on-demand. Paguei a encomenda com o cartão de crédito, conforme tem de ser, e fiquei a aguardar que os Correios me trouxessem a casa a caixa com os livros, esperando poder organizar, depois, uma pequena sessão de apresentação.

Esses exemplares, porém, nunca chegaram ao destino (foram entretanto gentilmente substituídos por uma nova encomenda e a festa vai acontecer dentro de dias). Depois de ter procurado a encomenda na estação dos correios e junto de algumas empresas alternativas que podiam ter tomado conta do serviço, a empresa expedidora reconheceu que a caixa estava, muito provavelmente, "lost in transit".

Imagino, pois, aqueles exemplares de "Zero à Esquerda" talvez tombados de um navio de carga, a caixa ainda flutuando ao sabor das vagas e as histórias cabo-verdianas que escrevi navegando, enfim, de regresso a casa; que os livros "lost in transit" acharam, isso sim, uma forma de se encontrarem e de mudarem o seu destino: os dois meninos badios da capa, que agora já hão-de ser homenzinhos, sorrindo enquanto as marés os empurram de volta a Santiago, a uma das praias de areia negra da ilha de Santiago.