terça-feira, 1 de outubro de 2013

A grande mais-valia




















Por decisão superior do ministério que tutela a massa desempregada, o curso certificado obrigatório ("formação modular - vida activa") de empreendedorismo, de 50 horas, foi acrescentado dos módulos de "ideias e oportunidades de negócio", "gestão de qualidade", "plano de negócio" e "ambiente, segurança, higiene e saúde no trabalho", perfazendo agora 150 horas (o nome do curso mudou para "criação de negócio"). Há-de ser um regalo ver-me instruído em matérias tão vitais e, pela amostra das primeiras três horas, a coisa vai ser soberanamente produtiva: gastámo-las a preencher um total de sete impressos, todos com os mesmos dados (nome, número do BI, morada, telefone, etc.), os quais já constam, de resto, dos ficheiros do IEFP.

Concluída esta árdua (e muito útil) tarefa, houve ainda tempo, pasme-se, para que cinco ou seis dos quase vinte desempregados se apresentassem aos demais. Por falta de tempo, porém, esta importante ocasião social continuará amanhã, desejavelmente animada por comentários tão vivazes como aqueles que hoje (um pouco incrédulo) tive de escutar. Fiquei a saber, por exemplo, que um jornalista há-de ter muita saída enquanto detective particular, para investigar casos de traições e assim.

Para que não haja ilusões sobre a qualidade científica (e a utilidade prática) desta formação para desempregados, a própria formadora adiantou, a dado passo, que "a grande mais valia destes cursos é o facto de as pessoas se arranjarem e saírem de casa". Cilindrado pelo interesse social desta mais-valia, comecei imediatamente a ponderar na indumentária com que devo apresentar-me amanhã (conforme cabalmente demonstra a foto acima). E a cogitar, já agora, que mais valia que se fossem foder os mangas de alpaca que inventam estas actividades tão (re)creativas para manter os desempregados presos dentro de uma sala durante quase três meses.