quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Almost blue


Por causa de Chet Baker pensa na sua arte, de Enrique Vila-Matas, fui hoje ouvir a canção Bela Lugosi's Dead, que julgo que não conhecia. Escutei, primeiro, a versão dos Nouvelle Vague, mais curta, com o som dos sinos repicando, e só depois a versão original, dos Bauhaus, com nove minutos e meio e o baixo (será o baixo?) soando como asas de grandes morcegos abandonando a torre do relógio, conforme a letra da canção. Senti uma certa nostalgia do tempo em que costumava ouvir Bauhaus em discotecas um pouco sinistras de centros comerciais e, também por causa do livro de Vila-Matas, recorri aos préstimos do Youtube para escutar alguma coisa de Chet Baker. Escolhi, mais ou menos por acaso, Almost Blue, uma composição lenta e melancólica que, conforme sugere um dos comentadores do video, parece muitíssimo apropriada para se ouvir às 5h30 da madrugada, fumando um cigarro enquanto nasce mais um dia de cansaços e decepções. Ou para ficar acordado pela noite fora escrevendo um livro um pouco louco contra a escuridão da madrugada, como faz o narrador de Vila-Matas. A letra fala de quase fazermos as coisas que fazíamos antes, provavelmente há muito tempo, e de promessas por cumprir e casais infelizes. Revejo fotografias de Chet Baker enquanto jovem e bonito e de Chet Baker depois que envelheceu e o seu rosto adquiriu algo de Bela Lugosi e de monstro melancólico — e ocorre-me que as pessoas belas como Chet Baker acabam muitas vezes quase tristes, escutando Almost Blue às 5h30 da manhã enquanto os grandes morcegos adejam as asas de regresso à torre do relógio.