terça-feira, 16 de abril de 2013

Entre os livros

Não comprarás — o novo mandamento. Impus-me, por causa disso, certa ponderação e decidi resistir ao cântico das sereias que anuncia um novo Bolaño ou contos do Juanot Díaz, empenhando-me, em vez disso, em terminar de ler livros que tinha deixado a meio ou que haviam ficado à espera de ocasião mais propícia. Assim mergulhei n'A Despedida de José Alemparte, de Paulo Bandeira Faria (uma agradável surpresa), n'Os Três Seios de Novélia, o clássico do Manuel da Silva Ramos, e agora em Barro, de Rui Nunes. Entre as páginas fechadas deste encontrei, quase um ano depois da primeira investida, um bilhete que ali tinha sido furtivamente deixado e que eu ainda não tinha lido. Fui deste modo transportado para um outro espaço e para um outro tempo, não longínquos mas assim mesmo já muito distantes do dia de hoje e deste lugar onde agora, enfim, leio as poucas linhas de que se compõe a mensagem. As páginas do livro estavam transformadas em cápsula do tempo, máquina de regresso ao passado, circunstância nem boa nem má, apenas um pouco melancólica. E nem todos os dias são bons para somar abatimento ao desânimo, prostração à apatia. Não convém que o passado mude de sítio.