quinta-feira, 28 de março de 2013

D. Passos Coelho, o sangrador



São coisas que acontecem: decorreram vários meses entre o momento em que me chegou às mãos o romance "O Feitiço da Índia", de Miguel Real, e o dia em que, por fim, comecei a lê-lo. O livro até já ganhou, entretanto, o Prémio de Melhor Ficção Narrativa da Sociedade Portuguesa de Autores, o que agora não me surpreende grande coisa, tal a qualidade daquilo que já li.

A acção decorre em vários momentos históricos, das primeiras viagens à Índia ao presente, narrando a paixão de três homens da mesma família pela realidade indiana (e pelas suas mulheres), e permitindo, por exemplo, acompanhar a viagem de Vasco da Gama, na qual seguiu o degredado José Martins, o undécimo avô do narrador e o primeiro português a pisar o chão da Índia (não fossem os autóctones receber a armada de má catadura).

A partida de Gama, por exemplo, é descrita com grande riqueza de pormenores: o navegador persigna-se diante do prior da Sé de Lisboa e beija-lhe o círio que tem aceso nas mãos. Chama-se, o prelado, d. Passos Coelho, "o Sangrador", pormenor que, não sei porquê, ficou a retinir-me entre as meninges como algo que me seja bastante familiar.