terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O corso fúnebre


Teria dificuldades, em outros pontos do planeta, para manter um nível de concentração minimamente aceitável durante a noite de Carnaval, tal a quantidade e qualidade de amenas distracções colocadas à disposição do conforto visual dos foliões. O Porto, porém, é frio e húmido, e está agreste como o raio que o parta. Deste modo, consegui entabular conversas relativamente sérias com dois amigos com os quais me cruzei durante a incursão carnavalesca de ontem.

Num primeiro momento, confirmei que uma das mais antigas companhias de teatro do Porto, o Art'Imagem, está praticamente condenado a desaparecer dentro de poucas semanas (o Estado não apoiará este ano a actividade do grupo), pelo que já não será levado à cena o texto que me foi encomendado (mais um trabalho para aquecer). Os funcionários deverão, por isso, juntar-se-me a breve trecho no cada vez mais numeroso exército dos desempregados. Não tenho grande jeito para contas, mas talvez o contabilista de Massarelos e o adiantadinho mental das finanças consigam explicar de que modo fica mais barato aos portugueses pagar subsídios de desemprego a pessoas úteis do que apoiar com montantes quase irrisórios a sua actividade artística.

Mais adiante, nesta espécie de corso fúnebre em que a noite estava transformada, também fiquei a saber que, no Rio de Janeiro, a escola Unidos da Tijuca, campeã do sambódromo no ano passado, recorreu este ano a um enredo de inspiração alemã (conforme fotografias anexas), cujas imagens estão a ser vistas por milhões de pessoas em todo o mundo. Tratou-se de uma solução de recurso. Os responsáveis da escola tentaram conseguir um apoio da organização do Ano de Portugal no Brasil para mostrar o nosso país na grande passarela do Carnaval mundial, mas os responsáveis da comissão portuguesa nem sequer deram resposta à solicitação. O ministro desnatado há-de, ainda assim, continuar a falar da exportação de pastéis de belém.