quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Conhece-te a ti mesmo (calma, isto ainda não é um post de auto ajuda)


Creio ter lido em tempos (e se o inventei dá no mesmo) uma entrevista de Juan José Millás na qual o escritor espanhol relata como sempre começa o dia com uma caminhada, elaborando durante o passeio a pé as reflexões que, depois, dão corpo aos livros. Eventualmente impelido por este sábio exemplo, adoptei hoje, já com o dia mais avançado, esta prática peripatética: tendo esquecido o Andante em casa, andei por aí a caminhar como um grego desprovido de transporte individual ou colectivo, protegendo-me como podia do vento norte. Os meus esforços de auto-calefacção, porém, não foram suficientes para descongelar as meninges e forçá-las, por assim dizer, a laborarem em alguma coisa que prestasse. Por mais que andasse, apenas me ocorriam as parvoíces do costume e as inadiáveis deliberações que hei-de executar a partir de amanhã (ou depois; ou na próxima semana). Ao final do dia, extenuado pelo inglório exercício, encontrei, ainda assim, uma possível explicação para o desânimo que, às vezes, me assalta: na alínea k) da Conferência de Eduardo Torres no Congresso de Escritores de Todos o Continente, de 1967, parte do cómico livro O Resto É Silêncio, do Guatemalteco Augusto Monterroso, esclarece-se que "a melhor maneira de deixar de se interessar pelas obras" de determinado autor "consiste em conhecê-lo pessoalmente". Ora, e se não estou a ver mal a coisa, sucede que sou provavelmente o autor que melhor conheço pessoalmente. E andar a dar passeios com este indivíduo não é uma coisa que o faça ascender na minha consideração.