domingo, 4 de novembro de 2012

Uma espécie de despedida


Acabo ser de ser informado, pelo Facebook (curiosa ironia), de que a edição de amanhã do Público será a última a contar com as secções locais (Porto e Lisboa), cujo extermínio justificou, há dias, o meu despedimento. Creio, por isso, que amanhã será o dia ideal para deixar, enfim, de ler o jornal que vi nascer e crescer, no qual também eu cresci e amadureci. Talvez, um dia destes, venha a ter saudades. Mas, para já, e a bem da minha própria sanidade mental, devo iniciar um luto rigoroso.

Em 23 anos de trabalho no Público, cumpridos na quinta-feira, apenas não estive no Local Porto durante 4 anos e meio (e, destes, a secção nem existia nos primeiros 3, já que o caderno respectivo era assegurado por contributos dos jornalistas de todas as secções, do Desporto à Cultura). Creio, por isso, que era, de longe, o jornalista do Público com mais anos de informação local às costas, apesar de, desde há muito, ali estar em regime de trabalhos forçados, cumprindo uma espécie de calvário que havia de terminar com a condenação final ao desemprego.

Ver "descontinuada" uma parte daquilo que era a matriz jornalística do Público é, ainda assim, uma coisa que não me comove demasiado. Irrita-me alguma coisa, mas não me comove. Há muito que o nosso trabalho era visto como uma excrescência parola e que estar a trabalhar ali queria apenas dizer uma de duas coisas: ou que se estava a dar os primeiros passos na profissão ou que se estava a cumprir um castigo qualquer.

Fiz de tudo no Local Porto, desde breves absolutamente rebarbativas até algumas das melhores coisas de que fui capaz nestes 23 anos de profissão. Vi passar pelas páginas do Local Porto alguns dos melhores jornalistas que conheci, do Pedro Rosa Mendes ao António Soares, do Luís Costa ao Aníbal Rodrigues, passando pelo Fernando Marques, o José Queirós, a Leonor Moreira, a Maria José Oliveira, o António Lage ou a Bárbara Simões, entre tantos e tantos outros. Agora estamos todos fora — parece que é assim a vida.